Velejador espanhol salvo, depois de acidente no Rio. Spanish sailor safe, after accident in Rio´s ocean. Brazilian issues. The SOS.




O velejador espanhol Jose Luiz Salgueiro, de 62 anos, respirou aliviado somente na terça-feira, depois que seu veleiro foi atingido por fortes e altas ondas no mar de uma cidade litorânea do Rio de Janeiro, na noite de quinta-feira da semana passada. O empresário, de Palma de Mallorca, navegava na embarcação BAVARIA 32, quando fortes ondas atingiram o barco, e ele e os tripulantes passaram momentos de pânico, tentando controlar a força do vento e do mar. A prefeitura da cidade disse ter sido notificada pela capitania dos portos assim que aconteceu o acidente, e chamou um guincho, terceirizado, mas que deveria ser pago. O acidente havia acabado de acontecer, o empresário estava em choque, sujo, todo molhado, perdeu todos os pertences eletrônicos a bordo, estava em perfeitas condições legais de velejar, e tinha as autorizações para tal. Ele saiu da Espanha em direção à Bahia, segundo informações, e no litoral do Rio de Janeiro, seguiu sem ter acidentes, até que a maré subiu de repente na quinta à noite, e atingiu o barco, submergindo com muita água e jogando a embarcação na areia. O guincho não conseguiu içar o barco devido ao peso não calculado antes (10 toneladas), e acabou destruindo parte da embarcação. O veleiro teve a lateral raspada, a frente parcialmente destruída, e a quilha sumiu no mar. Mergulhadores começaram o trabalho na água, para procurar a quilha, de peso de quase uma tonelada, mas não conseguiram encontrá-la, e suspeitaram de furto da peça, por parte de embarcações. Claro, que a procura pela peça perdida teria um preço, e, sem ter sido levado a um hospital, e ter suas condições físicas questionadas pela capitania, que pareceu surpresa ao ser perguntada se havia feito qualquer tipo de procedimento em favor dos tripulantes, a respeito da saúde dos mesmos, apenas se viu em meio ao começo do que seria objeto de um mercado com ofertas de ajuda mediante a preços variados. José estava sem comida, cansado, sem água potável, o que não foi oferecido pela capitania dos portos, nem teria sido oferecido pela prefeitura. Depois que o guincho apareceu, na noite do acidente, e solicitou dinheiro vivo, em notas, para içar o barco, e o espanhol, assustado, respondeu que apenas havia em sua posse um cartão de crédito, os passaportes de José subitamente desapareceram. Dormindo dentro do barco, para proteger a embarcaçaõ de roubos e outros furtos (duas camisetas suas também foram furtadas), ele viu o motor de seu bote de apoio ser levado por dois homens, que passavam pela praia, e se disseram pescadores, e teve que correr atrás para pegar a peça de volta.
A capitania apareceu, na primeira noite, além de oferecer o guincho que deveria ser pago, para entregar um papel para o espanhol assinar, falando sobre riscos e danos de um possível vazamento de óleo. No domingo, a capitania foi chamada para que levasse Salgueiro para o registro de boletim de ocorrência, já que os passaportes foram levados, pois ele não tinha dinheiro naquela hora para pagar o reboque e içamento do barco, e para salvaguardá-lo de quaisquer problemas relativos a alguma acusação de que estaria navegando ilegalmente no mar brasileiro. "Tentaram alegar várias coisas para culpá-lo pelo acidente, acidente é acidente, ele tem experiencia em navegação. O absurdo é que, para perguntar sobre sua saúde, e se precisava de roupas, comida, qualquer ajuda básica, até resolver o problema, só duas pessoas, que eram cidadãos comuns, uma jornalista e um empresário, é que apareceram", disse Felipe de Sousa, que passava pela praia, e viu a situação do espanhol de perto.
No domingo, então, é que a capitania levou José para que registrasse o furto dos passaportes, tomasse banho e pudesse almoçar. Foi solicitado à capitania que José obtivesse roupas limpas, e um dos responsáveis disse que providenciaria algumas peças. As roupas de José Luiz também foram levadas para serem lavadas, e ele descansasse um pouco. Foi solicitado segurança da polícia para que o empresário pudesse deixar a embarcação por uma noite, e pudesse dormir em uma pousada, mas a proteção ou segurança foi negada pela capitania, e pela assessoria da prefeitura.
Sua vida corria risco, já que ele estava com pertences, celulares, no barco, e pelo local, à noite, praticamente deserto, sendo alvo de risco de roubo e de agressões de drogados que circulavam pela cidade à noite. Quando foi dito que o consulado espanhol seria acionado, os passaportes do empresário reapareceram no dia seguinte.
A negociata pelo içamento da embarcação, pelo reboque e pelo 'descanso' do veleiro em uma marina, também foram um assunto nada à parte. Desanimado, Salgueiro repetia: "é tudo dinheiro, dinheiro, dinheiro". Ele teve que encontrar uma maneira de receber uma remessa do exterior por membros de sua família, por transferência financeira, porque só assim o reboque e içamento do barco seriam realizados. Um amigo argentino de José Luiz tentou ajudar no assunto referente à transferência, já que ninguém responsável por marinas ou empresas de reboque ofertados na cidade fariam qualquer movimento se o dinheiro vivo não fosse mostrado.
Salgueiro recebeu café da manha e pães, durante alguns dias, mas moradores e empresários locais ofereceram apartamento para que ele descansasse enquanto resolvesse o problema de retirada da embarcação, mas alheia a quesitos de 'ajuda", a prefeitura somente repetia que era do encargo dele pagar por tudo, e o assessor de imprensa não se mostrou solícito nem com a questão da segurança do empresário.
Falhas grandes, grotescas, do Brasil para com imigrantes, e de cidades turisticas que só funcionam na base do dinheiro, sem um pingo maior de humanidade, e de atenção a incidentes internacionais e questões relativas a direitos humanos. "Nem querem saber disso, é só dinheiro, quem vai pagar o que, virou um mercado horroroso, o ser humano só está sendo visto assim. É um grande problema para cidades brasileiras litorâneas que recebem veleiros e embarcações vindas de perto ou longe. Quererem achar algo para acusar, para cobrar alguma taxa, mergulhadores ávidos para pularem no mar e procurarem a quilha para negociar o valor da peça encontrada, falta de suporte mínimo à bida humana por parte da prefeitura. Que ajuda? Guincho que deveria ser pago, na hora, por alguém que acabou de sofrer um acidente? Assinar um papel sobre mancha de óleo no mar? Alguém chamou a ambulância? Ninguém viu. Tiraram fotos. Isso eles tinham para não dizer que negaram socorro. Quando se mencionou que era um problema internacional a alienação dele, com fome, sem água potável, o mínimo, na praia, (e reclamaram quando ele saiu por pouco tempo para tentar comprar um celular, molhado ainda, para tentar contatar a família), e o medo dele de largar a embarcação e ver mais itens subtraídos, aí é que alguém começou a se preocupar para acelerar a solução do problema", disse Maria Helena Santos, que passava pela praia na segunda-feira. Na terça-feira apenas, uma representante da parte de turismo local ofereceu alguma ajuda, mas ele não quis conversar. "Tarde demais", disse um amigo de José Luiz, depois que o barco foi retirado do local. (Berlin at 9) (Foto: Reprodução)